Acima de qualquer suspeita
BRASÍLIA
- Apesar de 12 réus terem direito a esse recurso, os
embargos infringentes só têm um alvo na prática: os petistas José Dirceu, João
Paulo Cunha e Delúbio Soares.
Não
há santo ou embargo capaz de tirar do regime fechado o publicitário Marcos
Valério, condenado a mais de 40 anos, nem seus sócios Ramon Hollerbach (mais de
29) e Cristiano Paz (quase 26).
Também
não há santo ou embargo capaz de tirar da cadeia a dona e o ex-vice-presidente
do Banco Rural, Kátia Rabello e José Roberto Salgado, que pegaram mais de 16
anos.
No
caso desses réus, se acatado o mérito, os embargos podem reduzir dois anos e
pouco daqui e dali, mas eles ficarão atrás das grades.
Já
no caso dos políticos, a diferença de até três anos trocaria o regime fechado
pelo semiaberto. Por isso, há uma enorme ansiedade.
A
escolha do ministro Luiz Fux para a relatoria, por sorteio, foi um banho de
água fria no ânimo dos réus e de seus advogados, já que Fux é uma figura
controvertida, envolvida num disse que disse com José Dirceu e, principalmente,
uma espécie de braço direito do presidente Joaquim Barbosa. Logo, tão duro na
condenação e na definição de penas quanto ele.
Mais
do que o relator, porém, quem chama a atenção são os novos ministros, Teori
Zavascki e Luís Roberto Barroso, pelo fato óbvio de que todos os demais já se
manifestaram oficialmente no julgamento sobre formação de quadrilha e lavagem
de dinheiro, menos eles.
Se
todos os que participaram da fase inicial mantiverem o voto e os dois novatos
absolverem Dirceu por formação de quadrilha, por exemplo, tudo muda de figura.
E estará configurado um golpe de mestre de Dilma, ou melhor, do governo e do
PT.
Teori
e Barroso não são listados como petistas, como Lewandowski e Toffoli, e foram
apoiados por tucanos e independentes. Perfil ideal para legitimar uma decisão
final favorável a Dirceu, Delúbio e Cunha. Quem haveria, ou haverá, de
questioná-los?
Eliane
Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2
da versão impressa da Folha,
onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do
telejornal "Globonews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.
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