Suprema hipocrisia
BRASÍLIA
–
Frustrante
para muitos, correta para outros, a decisão do STF de garantir um novo
julgamento a doze réus do mensalão revela a suprema hipocrisia dos políticos
brasileiros, sem distinção.
Desde
que um dos seus não esteja sentado no banco dos réus, nossos políticos são de
uma coragem e braveza sem iguais na defesa da cadeia imediata para criminosos
envolvidos em casos de corrupção.
Basta
fazer uma pesquisa para encontrar petistas, peemedebistas, tucanos, democratas
e afins gritando, em alto e bom som: só pobre vai para cadeia no Brasil,
bem-nascidos sempre escapam à custa de advogados milionários que usam e abusam
de recursos para protelar a execução de sentenças.
No
discurso, tese linda e popular de ser defendida. Na prática, a realidade
poderia ser outra, mas nossa classe política sempre evitou atacar de frente tal
injustiça. Motivo: o deputado ou senador de hoje pode muito bem ser o réu de
amanhã.
Afinal,
bastaria que o Congresso aprovasse nova lei reduzindo, de fato, o universo dos
recursos judiciais, acabando, por exemplo, com seu uso meramente protelatório.
Mas
isso sempre esbarra no instinto de sobrevivência dos nossos parlamentares.
Realidade bem exposta pelo ministro Celso de Mello, ao definir que os réus do
mensalão terão direito a novo julgamento por meio dos embargos infringentes.
Em
1998, apontou Mello, o Congresso, com o apoio de tucanos, pfelistas e petistas,
rejeitou o fim dos embargos infringentes, que hoje servem aos objetivos dos
mensaleiros para tentar mudar suas condenações no próprio Supremo.
Não
estou discutindo se tais embargos existem ou não, apenas tentando mostrar que
não há mocinho nessa história. Afinal, em 98, os congressistas legislaram em
causa própria. Ali, rasgaram seus discursos e buscaram se proteger de futuros
infortúnios. Para não correrem o risco de ver o sol nascer quadrado.
Valdo Cruz é
repórter especial da Folha e
colunista do site da Folha.
Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às
segundas-feiras na pág
Comentários
Postar um comentário